Créditos da imagem: Montagem / No Ângulo
Juca Kfouri é uma das figuras mais lamentáveis do jornalismo esportivo brasileiro, unindo tara ideológica a uma espécie de pedantismo moral. Há dez anos, Danilo Mironga o comparava às heroínas mexicanas que aguardavam pela chegada do único homem digno em toda Guadalupe. E eram seus bons tempos. Depois se tornou um militante capaz de desviar assuntos até atingir seu rol de odiados. Não surpreendeu ter saído da ESPN, nem ter sido bem abrigado entre os jornalistas de boina do UOL. No FOMQ, tornou-se hors concours no saudoso Troféu Até Minha Avó Faria Melhor, conferido aos piores da mídia esportiva. Dito tudo isso, a tentativa santista de cancelá-lo é absolutamente ridícula.
Juca chamou o Santos de “Ninguém FC” em sua estreia contra o Fluminense. Concordando-se ou não, qualquer pessoa pode usar expressões de impacto sobre como o time santista ficou irreconhecível. Nem na fila pós-1984 o alvinegro praiano aceitou ser descaradamente defensivo. Penso que agora não tem escolha. Ou faz isso, ou vai para a segunda divisão – sendo que nem a retranca assegura que não vá. Mas foi o próprio Santos que se conduziu a este cenário, a ponto de sacrificar sua identidade histórica. Ninguém de fora mandou cometerem tantos desatinos administrativos. Pode-se dizer que Juca foi um dos que encorajaram a Portuguesa a se afundar lutando uma batalha jurídica perdida, em 2013. Na tragédia santista, porém, não tem absolutamente nada com isso. Então pode detoná-lo sem parecer – neste caso – hipócrita.
Até demorou para este estágio de decomposição chegar. Há pouco mais de um ano, o Santos perdia uma decisão de Libertadores. Dois anos antes, gastou uma Ilha Porchat com Sampaoli e seus reforços caros. Foi vice-campeão brasileiro e comemorou como um título a vitória sobre o já desconcentrado Flamengo. Mas a ordem lógica do universo teria que prevalecer em algum momento. O nariz do Peixe (peixe tem nariz?) seguia empinado em 2021. Mal se despediu de Cuca, trouxe o estrangeiro Ariel Holan. Este deu no pé, tão logo percebeu a desproporção entre o que o clube tinha e o que dirigentes e torcedores achavam que deveria almejar. Ainda assim, só no fim do Brasileirão os santistas mandaram embora o cientista louco Fernando Diniz e se contentaram com o ônibus de Carille. Mas para 2022 teria que ir ao ataque. Com o quê? Espoleta?
Com Carille (aquele que se achava o sucessor de Tite) na rua, mais um estrangeiro chegou à Vila. Inutilidade. Na situação atual, qualquer técnico nacional para fuga do Z4 serve. Para piorar, desta vez não apareceu ninguém pagando dezenas de milhões de euros por algum nome da base – até porque estão todos involuindo, vide Lucas Braga. Só resta mesmo trancar a casa e torcer para que baste. E resta também aturar as críticas por este cenário. Venham da torcida santista, venham da torcida adversária (já aguardo os chiliques dizendo que não posso falar nada por ser são-paulino) ou da imprensa. Valem até se vierem de chapas-brancas arrependidos, ou comprometidos com a oposição ao presidente. O panorama é vergonhoso e não mudará apenas pela eventual exclusão da palavra “vergonha” da língua portuguesa.
Sim, não é fácil aceitar a liberdade de magoar outrem. O brasileiro tem um ditador dentro de si. Até por isso, como vizinhos de continente, não raro simpatiza com “machões latrino-americanos” que fazem e acontecem. Só que, objetivamente falando, deveriam até agradecer a Juca por lembrar que o Santos existe. Você só será ninguém mesmo quando nem de ninguém o chamarem.
Muitas verdades. Muitas verdades.
O Juca não perdeva oportunidade de alfinetar o Peixe desde os tempos da Placar quando o Santos deixou de ser o maior do mundo. Bastou um jogo abaixo da crítica e lá vem o cara jogando com as palavras e pisando da cabeça. Isso não tem desculpas. Tem que ser bloqueado sim. E o Uol pode retirar aquele estagiário plantador de notícia ruim…
Nice