Créditos da imagem: São Paulo Digital
Dizem que primeiro ano de faculdade serve para esquecer. Mas há coisas que, mesmo não sendo tão marcantes assim, recusam-se a deixar minha memória. Como a história contada pela temida professora de português jurídico. Ela relatou uma discussão acalorada com um aluno. Em certo momento, provocou o mesmo perguntando se achava que realmente levaria a melhor. Convicto, o aluno respondeu: “Davi venceu Golias”. Foi a deixa para que a professora fosse até ele, pedisse que se levantasse e, constatando que era bem mais alto, replicasse: “resta saber quem é Davi e quem é Golias”.
Por que estou falando disso numa coluna de esportes? Porque não raro o suposto Davi de uma discussão esportiva é, na verdade, o Golias. E vice-versa. Um exemplo é a discussão sobre “torcedor modinha” que assola os debates são-paulinos. Pela lógica do óbvio, modinha é quem segue cegamente os estilistas, abrindo mão do senso crítico. Pois tem acontecido justamente o inverso. “Deixar de ser modinha” seria seguir o estilo sem críticas (incluindo as destinadas à diretoria) recomendado por blogueiros, donos de sites, torcidas organizadas e certos grupos de conselheiros. É como só usar jeans Pierre Cardin, gravata Burbery e cuecas Calvin Klein, dizer que não liga pro assunto e chamar de modinha quem compra na Riachuelo. Outra pista de que está tudo ao contrário: assim como os estilistas do universo fashion ganham ditando moda, os do mundo bizarro tricolor também levam suas vantagens. Como o modinha pode ser aquele que não segue a moda e muito menos recebe com isso? Resta saber…
Imagino que os leitores compreendam que incondicional significa “não esperar nada em troca”. Não é o que ocorre com o “apoio incondicional”, palavra de ordem no São Paulo. Quem prega esta suposta solução está atrás de alguma coisa. As torcidas organizadas querem dinheiro para o carnaval, ingressos e vista grossa para vender produtos com símbolos e cores do clube – fora o mau gosto do santo bombado. Os blogs e sites querem, no mínimo (alguns têm interesses maiores, que prefiro não comentar aqui), mais visitantes. E quem os visita? O torcedor atrás de boas novas. Se o time está bem, preferem quem não avise da tempestade depois da bonança. Se está mal, querem ler e ouvir que é uma garoa boba. “É só trazer um goleiro, um lateral, um zagueiro, um volante, um meia e um atacante que o time é campeão!!!”. U-hu… E há os estilistas anti-modinhas com DNA político. São os grupos que berraram contra Leco, até que ganharam cargos ou puderam bater papo com os jogadores. Este é o futuro que lhes importa.
Se as intenções da incondicionalidade não convencem, a ideia em si é alienada. Como mencionei em coluna anterior, uma característica de torcidas como Real Madrid, Barcelona e Bayern é serem menos vibrantes – e mais exigentes – que as de rivais com menos conquistas. É o preço da grandeza. Até a torcida do Liverpool, que há décadas canta e encanta com You Will Never Walk Alone, despeja cobranças durante e depois da partida. Tudo por ser o clube inglês com mais títulos internacionais. O São Paulo não é o “maior do mundo”, mas está entre os mais gloriosos. Por isso sua torcida ganhou, com todos os méritos, o rótulo de chata. Deveria ser motivo de orgulho, não de vergonha. Afinal, o que anos de “o campeão voltou” produziram de glórias? Em 2008, o SPFC tinha seis títulos brasileiros e contando. Acaba de ser ultrapassado pelo Corinthians, que na época voltava da segunda divisão. Comemorar que o time não cai (e também não ganha), pela terceira vez em cinco anos, é algo que nem um torcedor da Ponte Preta faria – com todo o respeito aos ponte-pretanos.
Neste contexto, a derrota para o Grêmio e o empate com o Botafogo são “reveses do bem”. Sem vaga na Libertadores, talvez os são-paulinos cumpram o que prometeram, em especial quando criticaram minhas colunas da “Síndrome de Estocolmo” ou do “Eu Vou Te Abandonar”. Disseram que primeiro incentivariam, mas iriam pra cima da diretoria (no sentido figurado) tão logo o pesadelo acabasse. É a hora, meus caros. Se não fizerem isso e aderirem ao apoio incondicional, estarão imitando o personagem de Brandão Filho na Escolinha do Professor Raimundo. Sim, aquele que se embananava na hora de tirar um dez e fechava com o bordão “Tava indo tão bem!!!”. Com uma diferença. O São Paulo Futebol Clube, dos elegantes não-modinhas, está longe de ir tão bem…
Dedicada a Regina (6 letras) Toledo (6 letras) Damião (6 letras), professora do Mackenzie – resta saber se Davi levará a diabólica brincadeira na esportiva quando descobrir…
É triste constatar como o clube se apequenou, e a torcida se contenta com pouco. Talvez seja culpa da abundância de informações do mundo moderno, sendo que os responsáveis por informar ou tem interesses escusos ou tem preguiça.
Eu acho que você e o André Mello deviam dar apoio incondicional à volta do dedicado e incompreendido craque Wesley.
E vc ao perseguido porem otimo lateral, Egidio.
Fora daqui, bi rebaixado.
Hahahahhaahaha
Estava apenas querendo ajudar.
Ok, mas como cobrar?
Como toda torcida de time grande cobra no decorrer de décadas. A novidade não é a cobrança. Justamente o contrário. O fato de supostamente ter que “ensinar” a cobrar é um estranho sinal dos tempos. Maus tempos.
Hahahahaha, adorei!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!! Esse papo de modinha tá insuportável, virou moda ser anti-modinha!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!! E esse papo de futebol-raiz também é chaaaaaaato!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!
SEM A TORCIDA E SEM HERNANES TERIA CAÍDO, ISSO NÃO PODE SER DIMINUÍDO!
Olha, a torcida já estava lotando o estádio durante boa parte da permanência no Z4. Hernanes teve muito mais importância que qualquer outro fator. Falar isso não é desmerecer. É questão de analisar ponto a ponto.
No mais, é o que eu disse: se for pra apoiar na crise e permanecer passiva depois, vai vir outra crise ano que vem. E no ano seguinte. É preciso se livrar do patrulhamento “anti-modinha” e fazer o que torcedor de time grande sempre fez, sem se envergonhar disso.