Créditos da imagem: Montagem / No Ângulo
As mesas redondas e programas de bate-papo esportivo são repletas de conversas rasas e bipolares. Há um mês, houve revolta com a titularidade de Pedro no lugar de Gabigol, elevado a Messi em território doméstico. Ontem, o mesmo Pedro já se tornou melhor que Lewandowski. Em termos de Seleção, se dependesse destes programas o Brasil repetiria o trem da alegria de 1966 em todas as Copas. Marcou o pênalti decisivo no Paulistão, vai pra Seleção. É a triste rima do Casão.
Pedrowski estava na Fiorentina. O clube constatou desequilíbrio muscular e dedicou os primeiros meses a corrigir seu problema. Quando estava pronto pra mostrar serviço contra as duras defesas italianas, preferiu ser emprestado ao Flamengo. Vem jogando muito bem. Cada vez melhor. Mas num campeonato que, no vídeo game, seria fase 1 ou 2. O Campeonato Italiano, revigorando-se ano a ano, é fase 3 ou 4. O Campeonato Alemão é 4 ou 5. A Champions League, em que o polonês foi artilheiro, é 6 ou 7. Gabigol teve a chance de colocar seu joystick nestes níveis. Não foi bem e preferiu voltar pro 1 ou 2, onde bate recordes. Pedro pode seguir pelo mesmo caminho sem sequer ter tentado de verdade. Basta ficar no Flamengo na próxima temporada. Se isso acontecer, as portas vão fechar. Arrogância europeia? Não. Simplesmente a fila anda.
Salvo no universo da humildade nacional (esta sim, arrogante ao extremo), os talentos brasileiros não são únicos. Cebolinha é um baita atacante de lado? O coreano Son é melhor. Depois que se livrou de cumprir dois anos de serviço militar, desandou a fazer golaços. Seu colega de ataque, Kane, dá um banho de gols e assistências em qualquer centroavante brasileiro. Incluindo os que jogam por outras seleções. Ansu Fati mal começou e já faz gol pela Espanha, com 17 anos. Se brasileiro não quiser entrar na disputa, sobra mais pros outros. E não pensem que algum torcedor da Internazionale lamentou quando Gabigol foi o dono da América. “No nível 1 ou 2, até meu filho de 6 anos bate recorde, caz…!”. Se é exagero ou não, é outra história. Mas é como os torcedores e empregadores europeus pensam. Esnobou ou arregou? Dançou, piccolo amico.
“OK, Mironga! Mas e se o cara for pra seleção e marcar uma cacetada de gols?”. Contra quem, Pancho? Amistoso Brasil x Cãodávia do Norte? Massacre contra a Guatemala? Pode parecer chocante, mas na Europa tem televisão, internet, etc… Mesmo Copa América e Eliminatórias contam pouco ou nada. Cebolinha não foi ao Benfica por causa da Copa América. Foi porque Jorge Jesus o bancou. O que conta mesmo é a certidão de nascimento. Vão atrás de Gabriel Jesus, Neres, Antony, Vinícius Junior, Rodrygo e outros abaixo de vinte anos. Como Pedro, quando saiu. Querem desenvolver o futebol deles, desde cedo, em outro nível. Por isso voltar pro Brasil compromete todos os planos. Queima o filme. Não adianta dizer que é o Flamengo, vice-campeão mundial. Quase ninguém viu. Olharam o resultado no Google e concluíram: “o Liverpool jogou de calça jeans”.
Pedro Kane (desculpem por soar como o obscuro meia ex-Curitiba) é inteligente e sabe o que terá que decidir. É bem possível que o Flamengo consiga prorrogar seu empréstimo até maio ou junho. Mais que isso, esquece. Se der sinal verde pro rubro-negro tentar sua contratação definitiva, sua perspectiva internacional passa a ser o oriente. Esfiha ou yakisoba. Quer espaguete, croissant, chucrute, paelha ou fish and chips? Prepare as malas pra 2021. Os comentaristas vão chorar. Que chorem. São pagos pra isso.
Nice