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Até por não ter colunista palmeirense, o site não costuma falar muito do campeão sul-americano. Não foi a campanha gloriosa-mor, mas o Palmeiras venceu dois dos três títulos top possíveis, sendo um deles o top-top. O quarto lugar no Mundial não foi nada memorável, porém as dificuldades físicas muito contribuíram – fora o que já comentei em coluna anterior, sobre a realidade do futebol sul-americano. Enfim, a introdução é para dizer que, pois sim, a maior parte das críticas a Abel Ferreira é precipitada e oportunista – ainda que, também pois sim, ele tenha pontos a esclarecer.
O Palmeiras percorreu toda a distância (em quantidade) em todos os campeonatos disputados. Final do Paulistão, final da Libertadores, os dois jogos do Mundial e final da Copa do Brasil – esta última disputada quando a temporada atual já tinha começado. Assim, como brinde, acrescentou três partidas decisivas logo de cara – Recopa Sul-americana (duas partidas, com prorrogação na segunda) e Supercopa do Brasil. Neste contexto, nem mesmo a pausa forçada do Paulistão ajudou a reduzir o desgaste. Tampouco pôde aprimorar a parte tática, pois Abel teve o justo prêmio pelas conquistas: a chance de viajar e rever a família em Portugal. Aliás, isso gerou maior atraso também graças às restrições por conta do desempenho brasileiro da pandemia. Ou seja: o técnico palmeirense sofreu com o trabalho do presidente torcedor do Palmeiras.
As críticas usam Hernán Crespo como contraponto, tendo em vista a fluência dos times (titular e reserva) do São Paulo no retorno da pausa forçada. Mas é preciso ter certas cautelas. Time de extremos, o tricolor também teve uma fase esplêndida entre novembro e dezembro de 2020, seguida de uma violentíssima queda. Em parte, fruto da movimentação desgastante para compensar os furos do esquema de Fernando Diniz. Mas a bipolaridade já tinha precedentes em 2018. Lembrando que, até dias atrás, a carreira de Crespo tinha mais derrotas que vitórias. Ou seja: não se pode descartar que o portentoso de hoje seja o desesperado de amanhã. O são-paulino virou expert em pular do “campeão voltou” ao “time sem vergonha”. Não o usemos como munição contra quem efetivamente ganhou. Pode fazer água no meio da batalha.
Falando em campeão, Rogério Ceni é outro que não encontrou trégua nas conquistas. Ganhar o Brasileirão com a ajuda da incompetência colorada não ajudou muito. Nem complicando jogo dominado para ceder o empate ao Palmeiras de Abel, antes da série de penais da Supercopa. Má vontade à parte, Rogério ainda não deu equilíbrio ao Flamengo. Mesmo treinando o time principal em separado, nas primeiras rodadas do “Cariocão” – pois não teve uma Copa do Brasil para disputar após o apito final contra o São Paulo. Diferente, portanto, do Palmeiras. Nenhum time pode se comparar, em cansaço prévio e obstáculos ao planejamento, ao da Pompeia. “Ah, mas e o dinheiro?”. Dinheiro compra muitas coisas. O tempo, contudo, não é uma delas. Abrir mão da defesa do título paulista (“taça de gelo”, em rara felicidade verbal de Birner) era imperioso.
É fato que tal atenuante não explica o que era previamente duvidoso. Abel treinava o Braga com jogo de espera. Também foi assim que o PAOK eliminou o Benfica na “Pré-Champions”. Não há regra dizendo que só o jogo de iniciativa é moderno. Porém, há que se agir quando o adversário faz igual. Não pode copiar o compatriota Carlos Queiroz, no horroroso Portugal x Costa do Marfim em 2010: “vi que o adversário veio contra-atacar e não ataquei”. Queiroz ficou para trás e o futebol português ganhou muito com a mudança. Abel quer ser parte da Portugal que rejeita ser piada. Se a histeria externa permitir, 2021 mostrará se rivais seguirão com menos motivos para rir.
O que acho mais tenebroso é que até agora não é sequer possível cobrar o Abel Ferreira! Desde que chegou, não teve pré-temporada ou semanas cheias para treinar o time. Ou seja, simplesmente não dá para ser cobrado, não sabemos até agora o que ele é capaz de fazer. Sei que, pra mim, obviamente fez o Palmeiras sair de um patamar “mais do mesmo, abaixo do Flamengo”, e se colocar ao lado do rubro-negro, um nível acima dos demais.
O que pode conseguir com condições dignas de trabalho é simplesmente um mistério…
Nice