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Uma decepção e uma confirmação. Assim defino as passagens de Raí (diretor executivo) e Fernando Diniz no São Paulo. Era de se imaginar que o primeiro tivesse seus erros, típicos da inexperiência. O que não esperava é que fossem erros dignos de velhaco. Já Fernando Diniz sempre foi uma figura idealizada, por outros comentaristas, pelo desejo de ter um treinador moderno made in Brazil. A torcida para que dê certo sempre prevaleceu sobre a análise do conteúdo de seu trabalho. No lugar de um estudioso do que se desenvolve fora do país, um autodidata que faz dos clubes as cobaias de suas experiências. Quase funcionou desta vez. Ou quase quase.
Foram muitas as presepadas de Raí, mas devo destacar a primeira delas: a contratação de Diego Souza. Mais pelos detalhes periféricos que pelo – razoável – desempenho do atleta. Na entrevista inicial, vimos uma curiosa tabela com um repórter que, como um levantador, ergueu a bola com uma suposta declaração de Tite sobre Diego ser bom de grupo. Este comentário não consta em lugar nenhum, sendo que o treinador mal conviveu com o atleta. A despeito da estranheza, Raí não se fez de rogado e usou a “informação” como gancho para justificar a futura contratação. Mas o realmente constrangedor estava por vir. Um ano mais tarde, descobriu-se que a comissão pelo negócio foi paga a Fábio Mello, ex-jogador e ex-sócio de Raí. Como em outras ocasiões, a imprensa passou pano. Focou no valor da comissão (dez milhões), mas pouco ou nada dedicou ao destinatário e seu ex-parceiro.
A entrada de Diniz na história passa por outra situação delicada. Flagrado assistindo a um jogo em Roland Garros, com campeonato em andamento, o diretor ganhou uma versão especial para a viagem, quando Daniel Alves foi contratado. Tudo não passaria de uma “operação secreta” para convencer o então lateral do PSG a jogar no São Paulo. Sim, foi o encanto natural de Raí, e não a fortuna prometida (e ainda não paga) a Daniel. Semanas depois, com a demissão de Cuca, o novo contratado resolveu fazer as vezes de Raí e “indicou” Fernando Diniz, garantindo que era o melhor técnico brasileiro. Algo também muito curioso, considerando que Daniel Alves pouco ou nada viu dos times de Diniz. É difícil acreditar que tenha passado madrugadas buscando links ou assinando Premiere Internacional, para acompanhar times (CAP e Fluminense) que só perdiam. Haja mau gosto.
Da junção entre Raí e Daniel Alves veio Fernando Diniz. Não vou me delongar sobre este último. Os leitores podem ver as diversas colunas que fiz a respeito – incluindo até uma ou duas elogiosas. Apenas vou me concentrar neste interessante trio. Raí e Daniel Alves foram os garantidores de Diniz. Em contrapartida, salvo motivo físico, este não substituiu Daniel em nenhum jogo sob sua batuta. Um privilégio que, no futebol mundial, só é dado a Lionel Messi. Daniel Alves pode ter jogado com Messi e até ter dado o segundo maior número de assistências a Messi (o primeiro é o próprio, considerando os gols em lances individuais). Mas nunca foi Messi. Um dos segredos do Barcelona espetacular era justamente controlar o facho de Daniel, evitando que se tornasse o dono do time. Com o próprio Messi, mais Xavi e Iniesta, isso foi possível. Nos feudos do Rei Naldo, ficou mais complicado.
A proteção a Daniel foi apenas uma das bobagens de um trabalho que parecia prestes a calar a boca dos críticos, mas acabou dando razão a todos. Perguntei a Danilo Mironga, ímpio por natureza, por que não escreveu sobre a fase boa do time. A resposta: “é como bumerangue. Ninguém comenta quando está indo, porque sabe que vai voltar ao mesmo lugar”. A mesma lição vale para Raí. Não por acaso, sua saída ocorre em circunstância muito similar à do primeiro ano: liderança, queda e demissão de técnico. A diferença é que, desta vez, ele foi junto. Como cantaria Chico Buarque, ambos (Raí e Diniz) com a sensação de que já vão tarde. Resta saber se Daniel Alves, o remanescente do trio, seguirá os bons companheiros.