Créditos da imagem: Montagem / No Ângulo
Jorge Jesus voltou a ser unanimidade. Só que ao contrário. Foi parte de uma trama tão inteligente quanto comprar a Praça da Sé no Mercado Livre. Já começou disfarçando mal, com a desculpa de vir pro Carnaval de abril. Maio chegou e ele foi ficando. Topou ir a um jantar dado por ex-presidente do Flamengo, com jogo do Flamengo na TV. Desembestou a falar o que dava na telha, sabendo que um jornalista estava ouvindo. Foi corretamente execrado. E o jornalista? Segundo Gian Oddi, com apoio dos colegas de Linha de Passe, aquele “apenas fez o seu trabalho”. Resta saber que trabalho foi.
Renato Maurício Prado, comentarista de Flamengo, não foi de gaiato ao encontro. Era tão convidado de honra (?) quanto o Mister Dom Sebastião. Sem um fofoqueiro de diploma no local, o que Jesus falasse seria apenas uma informação de bastidores num blog ou canal de Youtube. Algo constrangedor, mas de circulação restrita. Renato levou o falatório ao mainstream. Foi uma escolha compreensível. Verdade que cobriu Paulo Sousa (o homem que trocou Lewa por Gabigol) de elogios na estreia. Mas depois o professor foi pra fornalha comum de Dome, Ceni e o xará Portalupi. Até este ponto, nada que fugisse do roteiro cada vez menos original. Já integrar uma farsa pra derrubar treinador é algo que eu não teria feito nem com minha mula Muricy. Tornar-se mais baixo que o inimigo o torna tão derrotado quanto ele.
O festim diabólico à rubro-negra foi tão planejado quanto o clássico do suspense. Na versão de Kleber Leite, o protagonista Jesus faria confidências aos figurantes em meio a comes, bebes e pisadas na bola. Depois Renato mandaria as bombas pra fora do recinto, assassinando o emprego de Sousa. A chance de abortarem a receita seria o Flamengo proporcionar, na Argentina, uma entrada prazerosa com Talleres – o jantar também rendeu trocadilhos. Como a atuação ficou sem as três estrelas do chef, viria a surpresa de língua solta. Renato correu pra espalhar a apetitosa iguaria por aí, mas não combinou com o paladar alheio. Tirando os gulosos por 2019, poucos tiveram estômago pra recomendar a troca de comando na cozinha da Gávea. Não foi preciso nem James Stewart pra desmoralizar a trama macabra.
Lá vem spoiler: em Hollywood, os dois assassinos terminam na pior. No remake brasileiro, o professor Gian conclama os coadjuvantes a livrarem a cara de um deles. Não caia nessa, amigo internauta que não ajuda nas transmissões. Renato Maurício Prado não foi testemunha ocular da História. Foi cúmplice ocular, no melhor (?) do jornalismo infame. Acreditava no sucesso do plano. Pena – pra ele – que os supostos intelectos superiores ficaram na suposição. Paulo Sousa ainda ganhou sobrevida de graça. Mesmo que seja um corpo que cai nas próximas semanas, Jesus é que não virá pro seu lugar. Também sujou pra direção. Kleber foi dormir se achando o Hitchcock brazuca. Acordou descobrindo que sua chanchada flopou em todas as mídias. Nem na Record, mesmo com Jesus no meio, alguém elogiou.
“Então você quer que cancelem o Renato?”. Não, Pancho. Entre cancelar e passar pano tem centenas de opções. Ficar exposto como um maquiavélico de cinema nacional, sub-José Lewgoy, saciará minha sede de sangue. Mesmo que o preço seja, em algum lugar por aí, um certo locutor dizer “eu sabia, eu sabia, amigo!!!!”…
Infelizmente macularam com força a nossa língua Mãe. ESTRAMBÓLICO? Não sei o que significa esta palavra. Conheço ESTRAMBÓTICO. Para escrever é necessário cuidar do vernáculo. A forma é tão importante quanto o conteúdo.